
Estavam todos a postos quando o advogado da autora dera início aos debates orais. E poucas vezes se viu uma exposição com tamanha eloqüência. Impossível transcrever a íntegra do discurso do causídico, mas a partir do trecho final se pode ter uma vaga idéia da beleza da oratória empregada por Dr. Platão Socrático àquela tarde, em plena Vara de Família:
–O agir heteropoiético ostentado pelo varão, ontologicamente considerado, a obumbrar a axiologia deontológica das núpcias, ignominiando e escarnecendo da varoa, o fez trilhar o descaminho que inexoravelmente o trouxe a deslugares. Casmurro arauto no lar, é indigno da vetusta, baluarte aclamada e conclamada pela comunidade e que nada mais fazia que recender e dimanar doçura e caridade por onde passava, exortando nada além de virtudes aos seus, fracassara, obviamente, em relação ao adúltero, este, sim, culpado do divórcio e com justiça defenestrado. Nada mais, Excelência.
E lágrimas desceram dos olhos do magistrado que, arregalando-os, fitou o advogado do réu, um menino que trajava terno, mas calçava tênis, cabelos tingidos de loiro, acne. Pela aparência não poderia ter mais que vinte anos de idade. Certamente, recém formado. Após engolir em seco e fitar novamente o neófito, o juiz asseverou, já de maneira tendenciosa:
–Vejamos o que tem a dizer o advogado do “adúltero”.
Dr. Brother, por sua vez, tendo presenciado a manifestação do oponente e observado o efeito do seu discurso sobre o nobre julgador, também cuidou para que sua manifestação fosse marcada pela utilização de termos, sob sua ótica, extravagantes. Surfista acostumado a enfrentar ambientes radicalmente hostis, iniciou com confiança sua manifestação:
–Tipo assim, data venia, ta ligado? Tipo, o coroa fez toda a mão pra mina: vivia trampando e, tipo, fazendo as “parada”. Deu um carango e uma baia pra mina. O cara era bala, mas a mina era perva, tipo, muito chave, saca? Curtia umas “parada” sinistra, e ainda ficava tirando o coroa. Tipo, não tava rolando, ta ligado? Daí o cara deu a real pra mina que não curtiu. Daí fez toda a mão, saiu da baia, tipo, na parceria, e pegou uma mina show e a outra ficou de cara, botou o cara no pau e “tamo” aqui, agora. Tipo, era isso... Falou.
O juiz estava vermelho de raiva. Nunca sua sala de audiência havia sido tão insultada por termos tão inadequados. Mas a verdade era que a prova estava em favor de Dr. Brother e a isso somava-se o fato de que, sinceramente, não entendera uma palavra do belo discurso do representante da autora. Assim sendo, a contragosto, sentenciou em audiência em favor do réu, mas para não desmerecer o venerável empenho de Dr. Platão Socrático, fez uma lisonjeira menção à sua notável manifestação, ao que aquele respondeu:
–Pode crer, mano!
–O agir heteropoiético ostentado pelo varão, ontologicamente considerado, a obumbrar a axiologia deontológica das núpcias, ignominiando e escarnecendo da varoa, o fez trilhar o descaminho que inexoravelmente o trouxe a deslugares. Casmurro arauto no lar, é indigno da vetusta, baluarte aclamada e conclamada pela comunidade e que nada mais fazia que recender e dimanar doçura e caridade por onde passava, exortando nada além de virtudes aos seus, fracassara, obviamente, em relação ao adúltero, este, sim, culpado do divórcio e com justiça defenestrado. Nada mais, Excelência.
E lágrimas desceram dos olhos do magistrado que, arregalando-os, fitou o advogado do réu, um menino que trajava terno, mas calçava tênis, cabelos tingidos de loiro, acne. Pela aparência não poderia ter mais que vinte anos de idade. Certamente, recém formado. Após engolir em seco e fitar novamente o neófito, o juiz asseverou, já de maneira tendenciosa:
–Vejamos o que tem a dizer o advogado do “adúltero”.
Dr. Brother, por sua vez, tendo presenciado a manifestação do oponente e observado o efeito do seu discurso sobre o nobre julgador, também cuidou para que sua manifestação fosse marcada pela utilização de termos, sob sua ótica, extravagantes. Surfista acostumado a enfrentar ambientes radicalmente hostis, iniciou com confiança sua manifestação:
–Tipo assim, data venia, ta ligado? Tipo, o coroa fez toda a mão pra mina: vivia trampando e, tipo, fazendo as “parada”. Deu um carango e uma baia pra mina. O cara era bala, mas a mina era perva, tipo, muito chave, saca? Curtia umas “parada” sinistra, e ainda ficava tirando o coroa. Tipo, não tava rolando, ta ligado? Daí o cara deu a real pra mina que não curtiu. Daí fez toda a mão, saiu da baia, tipo, na parceria, e pegou uma mina show e a outra ficou de cara, botou o cara no pau e “tamo” aqui, agora. Tipo, era isso... Falou.
O juiz estava vermelho de raiva. Nunca sua sala de audiência havia sido tão insultada por termos tão inadequados. Mas a verdade era que a prova estava em favor de Dr. Brother e a isso somava-se o fato de que, sinceramente, não entendera uma palavra do belo discurso do representante da autora. Assim sendo, a contragosto, sentenciou em audiência em favor do réu, mas para não desmerecer o venerável empenho de Dr. Platão Socrático, fez uma lisonjeira menção à sua notável manifestação, ao que aquele respondeu:
–Pode crer, mano!
Um comentário:
Genial - vou levar para as turmas de IED, mas... Data maxima venia, um pouquinho preconceituoso, né? Tudo bem, salvo melhor juízo, se perde o amigo, mas não a piada... Tá ligado? hehehe
Tinha que ser surfista, loiro (oxigenado) e com espinha??? Tudo bem, tudo bem... Ficou muito divertido... Parabéns... Dr. Brother!
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