sábado, 18 de julho de 2009

NEGOCIANDO HONORÁRIOS

O casal estava cansado de tolerar algumas questões flagrantemente abusivas a que vinha sendo submetido. Marido e mulher, então, decidem que é chegada a hora de contratar um advogado e solucionar a controvérsia de uma vez por todas. O problema seria a questão dos honorários. Eles eram pobres, mas não eram bobos. Conheciam a fama dos advogados e não contratariam ninguém sem antes fazer uma criteriosa pesquisa de preço com, no mínimo, três amostras:

Amostra 1: O neófito.

A pesquisa iniciou-se com o filho de uma vizinha. O menino, que freqüentava a casa dos consulentes, desde que usava fraldas, recém havia se formado e atendia na mesa de jantar da casa dos pais. O neófito ouviu atentamente os relatos tenebrosos do casal e, ao ser indagado sobre os honorários, respondeu, gaguejando muito:

–Olha, a questão não é tão simples, não... Demandará alguns anos... Muitas idas ao foro... Isso sem contar as audiências e....

–Ok! – Interrompeu dona Sovínia, já angustiada. – Quanto isso vai nos custar?!

Pelas têmporas do menino toma curso a primeira gota de suor. Ele não quer trabalhar de graça, mas ao mesmo tempo não quer perder o cliente. Soma-se a isso o fato que se trava de amigos da família que acreditaram em sua competência. Não queria desapontá-los. Ponderou sobre todas estas variáveis por alguns segundos. Não concluiu nada, mas premido que estava pelo olhar dos potenciais clientes, chutou o primeiro valor que veio a sua cabeça:

–Duzentos reais fica muito ruim?

A mulher levantou-se da cadeira indignada:

–Duzentos reais?! Depois de todos os bolinhos e cachorrinhos quentes que servi pra você lá em casa, quando sua mãe lhe deixava lá a tarde inteira pra sair a bater perna na rua? Vamos embora daqui, Mísero. É só se formar em advocacia e a pessoa já fica besta, mesmo!

Amostra 2: O super-advogado bem-sucedido.

–Bom dia!

–Bom dia! Temos hora marcada com Dr. Writ Heróico.

–Pois não. São quatrocentos reais adiantados, só pela consulta.

O casal tenta não deixar transparecer o espanto. Depois de cruzarem olhares arregalados, Dona Sovínia, simulando uma inexistente tranqüilidade, volta-se para a balconista:

–Veja só. Devo estar com a cabeça na Lua. Esqueci meu talão de cheques no carro. Vamos lá buscar e já voltamos.

Amostra 3: O experiente e bem conceituado advogado.

–... então, o caso é esse, doutor. O que você acha?

–Moleza. Já cuidei de muitos casos assim. Inclusive, enquanto você falava eu já peguei uma petição de um caso igual, coloquei o nome de vocês, já imprimi e já assinei. Aqui está ela. Podem sair daqui e já distribuir no foro. A propósito, são vinte mil reais.

–Vinte mil reais?! Mas você nem teve trabalho algum! – Exclama o Sr. Mísero.

–Ok. – E o causídico rasga, na petição, a parte que contém sua assinatura – Sem a minha assinatura é de graça.

Claro, que com essa atitude o profissional esperava que o casal se convencesse de sua competência e de sua auto-confiança e, assim, o contratasse. Não foi o que aconteceu. A mulher rapidamente pegou a petição, agradeceu e saiu.

De volta à amostra nº 1:

–Então, foi isso que aconteceu e aqui está a petição daquele velho e experiente advogado.

–Que bom que vocês decidiram me contratar. Bem, então, são duzentos reais.

–Duzentos reais? Mas você só vai ter o trabalho de assinar!!!

O jovem não conseguia acreditar em toda aquela avareza. Cansado de discutir e traumatizado pelo último encontro, resolveu ceder.

–Cem reais, então.

A mulher, um pouco menos agitada, conforma-se:

–Ok. Mas em quantas vezes?
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